terça-feira

Teoria Integral (Ken Wilber) - Parte VI (TIPOS)

E finalmente chegamos à ultima parte do nosso "resumo" da Teoria Integral segundo Ken Wilber. Se isto é um "resumo", dá para perceber a densidade da coisa, não é?

Se só agora se "juntou a nós", sugerimos que leia os posts anteriores:
1 . Introdução
2. Quadrantes
3. Linhas
4. Níveis
5. Estados


PRINCÍPIOS E PROPRIEDADES
- os tipos são diferentes aspectos ou estilos disponíveis em qualquer nível
- estão disponíveis independentemente do Nível do self ou do Estado do self
- aparecem em tipologias (existem dezenas delas mas o mapa integral aborda apenas algumas)
- são variantes horizontais de expressão (são transversais às linhas) 
- expressam-se de forma diferente consoante os níveis
- podem ter expressões saudáveis e expressões prejudiciais
- à semelhança dos elementos anteriores estão presentes em todos os quadrantes. Alguns exemplos:

APLICAÇÕES
Os tipos são úteis para podermos fazer sentido do mundo neste mapa integral. Um agricultor, por exemplo, pode ter diferentes TIPOS de batatas ao seu dispor (não necessariamente umas melhor que as outras), mas todas têm que passar pelos mesmos NÍVEIS de desenvolvimento até estarem maduras e ele sabe que tem que ter atenção a diferentes LINHAS (ex. água com que as rega, nutrientes no solo, etc.) para que esse processo ocorra bem.

Da mesma forma que nos elementos anteriores vamos agora colocar o nosso foco mais no quadrante UL (interior individual), tendo em conta alguns tipos que nos caracterizam enquanto humanos. Mais uma vez, os TIPOS podem ser abordados de uma forma muito profunda e complexa. Visto que aqui o objectivo é resumir e simplificar, vamos falar apenas de duas tipologias simples: Masculino vs Feminino e Orientação por quadrantes, ambas mais relacionadas com o quadrante UL (interior-individual).


MASCULINO vs FEMININO
O autor refere-se a masculino e feminino neste contexto não tanto em termos de género mas mais como duas "forças" fundamentais e complementares da natureza. Segundo o mesmo todos nós temos ter uma predominância de uma destas forças e uma não é melhor que a outra. O que temos que ter em conta é se as mesmas são saudáveis ou prejudiciais.

Vamos ver a implicação destas forças na personalidade dos indivíduos, quer de uma forma saudável, quer prejudicial.

MASCULINO SAUDÁVEL:
- ênfase na autonomia
- acção de acordo com um objectivo moral
- o "fazer" sobrepõe-se ao ser
- alinhamento no sentido da liberdade
- tendência para a diferenciação
- tendência para criar sistemas de ordem

MASCULINO NÃO SAUDÁVEL:
- alienação dos outros
- isolação, separação ou despersonalização
- emoções inibidas
- dominação com controlo e agressão
- medo de relações
- comportamentos destrutivos (ex. abuso de drogas)
- resistência ou incapacidade de ver perspectivas de outras pessoas
- energia criativa transformada em destrutiva

FEMININO SAUDÁVEL:
- ênfase nas relações
- força através da comunhão
- cultiva a interdependência natural dos indivíduos
- o sentido de self é influenciado pelos outros
- indiferença à individualidade
- espontaneidade

FEMININO NÃO SAUDÁVEL:
- perder-se na relação
- medo de estar só, de tomar decisões
- relações co-dependentes e fusão emocional
- perda da individualidade
- muita ansiedade perante o caos
- morte da libido
- apatia


ORIENTAÇÃO POR QUADRANTES
Um outro tipo que podemos verificar na personalidade das pessoas é a forma como elas olham o mundo e fazem sentido do mesmo. Aqui podemos voltar atrás aos quadrantes e perceber que pessoas diferentes podem ter "lentes" diferentes, estando umas mais orientadas para as suas preferências pessoais (UL), outras para os valores do grupo (LL), outras para fazerem pessoalmente algo (UR) e, por último, outras para como tudo se encaixa e pode ser estruturado (LR):

Três exemplos práticos para perceber melhor. Antes de ver as opções de resposta pense na pergunta e o que faria intuitivamente. Depois olhe as opções de resposta e veja onde se encaixaria melhor.

1 - imagine que está a sentir um "aperto financeiro". O que faz?
a) fala com amigos bem sucedidos e pede um conselho
b) vê tudo o que tem, o que sabe fazer, analisa o mercado e faz um plano de acção
c) escreve uma lista de coisas que pode fazer
d) reflecte sobre o que adora fazer e como pode por ir em prática

2 - termino uma reunião de projecto e sinto que foi boa se:
a) decidimos um plano compreensivo de acção (que se encaixa na organização)
b) os assuntos importantes foram abordados de forma que me fizeram sentido
c) todos partilhámos o que sentíamos e chegámos a um acordo
d) sei exactamente o que tenho que fazer da minha parte

3 - decido jantar fora com um(a) amigo(a) e ele(a) pergunta onde quero ir:
a) sugiro com base no que me apetece na hora
b) digo "tanto faz", "onde preferes?"
c) imagino o tipo de comida e ambiente indicado para o nosso tipo de amizade
d) considero várias variáveis (comida, ambiente, estacionamento, preço, etc.)

Cada uma das opções reflecte um tipo de quadrante preferencial na forma como vê o mundo. Para poder ver as suas respostas, aqui vai a CHAVE: 
1. a - LL (cultural), b - LR (sistémico), c - UR (comportamental), d - UL (intencional)
2. a - LR (sistémico), b - UL (intencional), c - LL (cultural), d - UR (comportamental)
3. a - UR (comportamental), b - LL (cultural), c - UL (intencional), d - LR (sistémico)

Existem mais questões que podíamos fazer (o teste original tem 9 questões) mas a ideia era "sentir" um pouco que pessoas diferentes têm orientações diferentes e que as mesmas poderão inclusivamente variar consoante a situação em que nos encontramos.


REFERÊNCIAS
E pronto, parece mentira mas chegámos ao fim. Ficou MUITA coisa por dizer (acreditem que muita mesmo!). Alguma por falta de tempo, outra por falta de espaço, outra por falta de compreensão da nossa parte. Esperamos um dia poder rever esta informação e enriquecê-la com novos conhecimentos mais actualizados.

De qualquer forma esperamos que tenha sido um processo útil e interessante de percorrer. Para nós foi mais uma forma de consolidarmos esta informação cá dentro e por isso estamos desde já agradecidos pelo desafio que nos lançaram. :)

Deixamos abaixo as principais referências que utilizámos para fazer estes resumos, assim como um "mapa" resumo de alguns dos elementos da teoria:
- Kosmic Consciousness (Entrevista com Ken Wilber)
- Integral Life Practice (Livro)
- Core Integral Level 1: Essential Integral (Curso)
- Notes on Ken Wilber (Resumo Philosophernotes)



4 comentários:

Anónimo disse...

Parabéns Vasco, pelo fim de mais uma jornada, perdoe-me por não ter lido todos os posts antes, mas é que o tempo esta curto pra tanta coisa, você sabe como é! E realmente é como você disse, essa teoria tem horas que parece que vai dar um nó em nosso cérebro(rsrs). Mas o seu resumo esta claro, apesar de algumas coisas serem realmente difíceis de acompanhar. Mais uma vez parabéns, e espero por seu próximo resumo.
Cordialmente,
Aline Marques

Vasco Gaspar disse...

Muito obrigado Aline!

CONSULTORES disse...

Prezado Vasco, estudo Ken Wilber a mais de um ano, adorei a forma como você escreve sobre ele. Estou escrevendo uma dissertação de Mestrado, na área de educação, e gostaria de saber se você poderia me enviar seus resumos e se posso lhe citar em minha dissertação.
Atenciosamente,
Richardson
richardson.sds@gmail.com

Vasco Gaspar disse...

Olá Ricardo.
Fico feliz por ter gostado.
Os resumos que pede são esses mesmo que estão online publicados. Basta fazer copy-paste, e sim, que quiser fazer alguma referência ficarei igualmente feliz.

Se puder ajudar com algo mais me diga.

Um abraço,
Vasco